Sunday, December 30, 2007

Reunião de condóminos


"Fomos talhados para isto", disseram os perus, os borregos, e o leitão

Entre oito grandes perus decapitados (2,49€ o quilo) e quatro metades de borrego, com os olhinhos fechados, um bacorinho dormindo, dormindo, dormindo, sereno, com toda a expressão de quem fez tudo o que lhe foi escrito no guião.

Houvesse costume de esculpir destes bichos, seria muito fácil de o confundir com mármore entalhado.

Para lá das metades de borrego, uma desarrumação de pedaços de carne, como há-de ter-se visto em redor do cadáver de Benazir Bhutto .

Monday, December 24, 2007

A vida é uma sitcom?

Embaraça-me falar com esta propriedade de tanto (a vida, oiço dizer) com tão poucas palavras. É que o que não faltam são palavras, mesmo que repetidas, semelhantes, homónimas, a história toda. De repente apeteceu-me acrescentar que o que faltam são ideias. Mas é mentira. Há mais ideias do que conseguimos conceber. Se grande parte delas são más ou ordinárias ou insensatas, isso é uma discussão que não quero ter aqui e agora; talvez por aqui, há-de haver um momento, um outro que não este. O tempo é como as palavras. O que não falta é tempo. Há mais tempo do que conseguimos conceber. Parar.

Tentando justificar o título, e por andar com os bolsos cheios de perguntas: por que razão as entrevistas andam cheias de parêntesis com uma palavra no meio, assim mesmo:

(risos)

Por que razão se passou a assinalar cada risinho de um entrevistado?

Aqui formulo alguns motivos:
- as entrevistas não são sérias;
- os entrevistadores não são sérios;
- os entrevistados não são sérios;
- os entrevistados não reconhecem seriedade à entrevista;
- quem redige as entrevistas inventa momentos de esponeidade e meninice no discurso dos entrevistados;
- só ando a ler entrevistas de gente pateta feitas por gente pateta, destinadas a gente pateta.

Esta última proposição é mais ou menos verosímil do que ser a vida uma sitcom?

Venha o diabo...

Cólera – cautela, risco de contágio - eu avisei


Contagem dos mortos.
Tão regular que angustia. Hoje não aguento, tenho de desafogar-me.
Os filhos da puta porca dos jornalistas, com a puta porca necessidade da contagem dos mortos. É agora. É no remate do ano. É na Páscoa. É por aí fora. Que prazer em manter actualizada a contagem dos mortos.
Agora mais um, a nova contagem tem mais um, mais um grande morto. Que bom, já temos mais mortos do que o ano passado. Que bom, mais mortos. Que mau, temos menos mortos. Mais mortos. Menos mortos. Os mortos, os números, a lista, os dígitos. Que horror, dez mortos, dez, mortos.
Mortos.
Mortos.
Mortos.
Mortos.
Contamos carneirinos para adormecer, e contamos mortos para…?

De que serve esta merda?
Que higiene mental fazemos com este colossal monumento de homenagem às fezes?
Que amor à merda é este?

Que puta porca necessidade temos de estar a contar os mortos?
Não temos a nossa própria contagem?

Para que melhor serviria a estrutura montada para a contagem dos mortos?
Tempo dos jornalistas? Meios de reportagem dos jornalistas? Tempo dos polícias? Meios de intervenção dos polícias e dos serviços de assistência? Para que servem estas perguntas. Sem interrogação.

É galante ver o comandante de escala pronunciar o número? E por que não pára o país para ouvir o número? Custa muito ao país parar para ouvir a número? E ejacular em simultâneo? Não ejacula o país em simultâneo ao ouvir o resultado da contagem dos mortos? Então para que puta porca de merda serve a contagem dos mortos?

Que sordidez, senhores. O que temos na cabeça? Fez?, temos a fez a jorrar para fora do crânio?

Que vergonha, que nojo, que náusea dos humanos… não me toquem, cheiro a esgoto, cheiro a rato de esgoto, que nojo de mim, sinto-me como se me tivesse acabado de defecar. Sim, a mim próprio, escorrendo do meu recto. Parabéns, puta porca divindade que assim me criou. Um aplauso espirrando caca.

Para não se pensar que estou fora da época:

Vamos contar as caveiras
Vamos contar as caveiras
Por esses quintais adentro vamos
Contar as mortes solteiras


Vamos contar as ossadas
Vamos contar as ossadas
Por esses quintais adentro vamos
Contar as mortes casadas

(Natal dos simples, é baptismo muito genial do Sr. Afonso, mais procedente ainda neste contexto)

Tuesday, December 18, 2007

Entrevista parcialmente ficcionada

- É espantoso o que me sai pela boca. Sim. Mais espantoso ainda quando espirro.

Professor Bambu – sem toga, mas com toda a mesma pose

Há momentos assim: no blog do P. Santana Lopes há o momento antes (APP), e o momento após (APP...) o J. Pacheco Pereira o ter mencionado no seu impressionante (faltaram-me as palavras, aqui mesmo, e não apenas para o entendimento do sarcasmo) blog.

Em respirações normais, não interviria nestas matérias, mas após tal fenomenal evento, ou eventual fenómeno (julgo-me engraçadinho por escrever assim, tenham piedade de nós, do eu fracamente engraçadinho, e do eu ansioso por ser engraçadinho), este espavento pungiu-me a salientar o daqui essencial: este é o poder dos media. JPP torna-se, finalmente, o feiticeiro e o enfeitiçado em simultâneo.

A despropósito de tudo isto, tenho igual (boa) consideração por PSL e por JPP, bem sei que a PIDE dos intelectuais fazem gala em odiar o PSL, mas a PIDE dos intelectuais can kiss my big fat ass, e se o meu ass não chegar, they can kiss professor’s Bambu huge fat ass. E, na falsa improbabilidade do JPP ler isto, he can kiss his own big fat furry ass. Mas não todo, que deixe meia nádega para o PSL.

Não há como escrever isto em português, lamento.

Saturday, December 15, 2007

Declaração Universal dos Direitos (e interesses) do Homem




Acredito na capacidade de entretenimento de uma programa como a Operação Triunfo. Só posso acreditar, para quem tem apenas quatro canais de televisão, por muito ou pouco que a ligue, estou sempre a cruzar-me como o karaoke emocional nacional. Estarei muito enganado em sugerir uma nova versão do programa, em que se aproveita quase todo o nome, e o conteúdo do programa deixo à devassidão e velocidade da vossa imaginação? O que vos parece ter em prime time uma Operação Triumph?