Ó séria Literatura!
A frase mais límpida que li nos últimos tempos:
"Cesariny artista poeta já deixou de morrer."
(lido num blog, não sei qual, no dia - ou o seguinte - à morte dele, que não a do blog, claro)
Fixei aqui a minha atenção pois parece-me tão evidente: morre-se constantemente, quando se morre, e só então, deixa-se de morrer.
Custa-me fortunas suportar a sisuda literatura, e os sisudos trituradores de literatura, apegados sem pejo à morte, porque escrevem para vencer a morte, porque a literatura vence a morte, e grosserias afins. É um discurso fúnebre, em que não há defunto para sepultar; se não há morto, falar de morte - julgo - é oco e patético e inconsequente e perda de tempo, logo desnecessário e indesejável.
Escrevi uma vez que a televisão e a nossa morbidez não deixavam (e teimam em não deixar) morrer as pessoas. Como aconteceu com a queda do Concorde, em que transmitiam insistentemente as imagens do avião em chamas, com as pessoas ainda vivas, ainda vivas, ainda vivas, com a transmissão constante elas nunca morreriam, não morreriam, mesmo que nada milagoroso nos ocorresse para impedir o acidente (um de nós pode ser um deus com esse e outros poderes e não o ter descoberto ainda), não deixávamos então de as transmitir, na impossibilidade de as salvar, impedíamos que morressem, ainda vivas, ainda vivas, não morrerão, não morrerão.
Descobri entretanto que o nosso desejo não é esse, é antes vê-las morrer o maior número de vezes possível. Especialmente quem morre de forma fantástica.
Apesar de uma morte fantástica já me parecer um tema mais nobre, quero obrigar-me a não escrever sobre a morte. É um cândido tema para escritores ambiciosos de aclamação académica, como diz o Viegas: os almirantes.
Tenho vontade de escrever longamente sobre o desejo de morte (pulsão mais forte do que a sexual, tão forte quanto o desejo de sobrevivência, soa absurdo - e certamente será - mas parece-me uma equação resolvida), para não ser confundido isso possivelmente nunca acontecerá (impossivelmente acontecerá significaria o mesmo?).
Em orientar navegações já tenho dificuldade bastante com a minha piroga.
("milagoroso", não corrigi, soa melhor assim, avé corruptela.
"Cesariny artista poeta já deixou de morrer."
(lido num blog, não sei qual, no dia - ou o seguinte - à morte dele, que não a do blog, claro)
Fixei aqui a minha atenção pois parece-me tão evidente: morre-se constantemente, quando se morre, e só então, deixa-se de morrer.
Custa-me fortunas suportar a sisuda literatura, e os sisudos trituradores de literatura, apegados sem pejo à morte, porque escrevem para vencer a morte, porque a literatura vence a morte, e grosserias afins. É um discurso fúnebre, em que não há defunto para sepultar; se não há morto, falar de morte - julgo - é oco e patético e inconsequente e perda de tempo, logo desnecessário e indesejável.
Escrevi uma vez que a televisão e a nossa morbidez não deixavam (e teimam em não deixar) morrer as pessoas. Como aconteceu com a queda do Concorde, em que transmitiam insistentemente as imagens do avião em chamas, com as pessoas ainda vivas, ainda vivas, ainda vivas, com a transmissão constante elas nunca morreriam, não morreriam, mesmo que nada milagoroso nos ocorresse para impedir o acidente (um de nós pode ser um deus com esse e outros poderes e não o ter descoberto ainda), não deixávamos então de as transmitir, na impossibilidade de as salvar, impedíamos que morressem, ainda vivas, ainda vivas, não morrerão, não morrerão.
Descobri entretanto que o nosso desejo não é esse, é antes vê-las morrer o maior número de vezes possível. Especialmente quem morre de forma fantástica.
Apesar de uma morte fantástica já me parecer um tema mais nobre, quero obrigar-me a não escrever sobre a morte. É um cândido tema para escritores ambiciosos de aclamação académica, como diz o Viegas: os almirantes.
Tenho vontade de escrever longamente sobre o desejo de morte (pulsão mais forte do que a sexual, tão forte quanto o desejo de sobrevivência, soa absurdo - e certamente será - mas parece-me uma equação resolvida), para não ser confundido isso possivelmente nunca acontecerá (impossivelmente acontecerá significaria o mesmo?).
Em orientar navegações já tenho dificuldade bastante com a minha piroga.
("milagoroso", não corrigi, soa melhor assim, avé corruptela.
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