Comissão 1.0 - curso de escrita (re)criativa
Solilóquio, Pinóquio, Tóquio, impróprio, trompas de faló...(tudo isto faz sentido!)
Eu, Valter Hugo Mãe (tão Mãe quanto Henrique de Carvalho é agora Saurimo!; mas, será que nesse além de três décadas de distância, a alguns milhares de léguas/milhas marítimas e terrestres/quilómetros//braças/jardas/pés/polegadas/milhares de milhões de pequenas medidas de distância, escrevia eu: será que nesse além angolano também houve alguma preocupação de vestirem a emotividade?, houve a busca dela?, tanta quanto o expressivo e desarmante conceito de mãe?), que já não sou eu próprio mas uma marioneta que instruí, por mim autorizada, para experimentar-vos enquanto narradores atolados da vossa incipiência (para quem apenas escuta, este amador narrador escreveu incipiente, e não insipiente, embora tivesse hesitado uns segundos gordos sobre qual deles seria a menos imperfeita significação), recuo novamente... para experimentar-vos enquanto narradores atolados na vossa incipiência, propus-vos este objectivo para apreciar as delicadas abordagens de uns, e as possíveis variantes até ao atrevimento e abuso de quem se servir desta liberdade (com ou sem pressuposição da existência ou não da liberdade, contei-vos este meu sentimento?, sobre a minha escrita livre?) DELEGADA para construções e enredo impróprios.
Algo sobre mim: obscenidade é uma palavra deliciosa.
Se colapso, derramo prosa e poesia.
A prosa é a minha amante a tempo inteiro, a poesia é a Senhora tentação (com a qual demoradas volúpias são impossíveis), é a aparente disponibilidade do ser muito atraente na propriedade vizinha, com quem tenho intimidades com basta frequência. Isto parece contraditório porque se a prosa é uma amante a tempo inteiro, como posso ter disponibilidade para ter intimidades frequentemente com a poesia? Simples, é que se nas minhas intimidades com a poesia a prosa as presencia - cúmplice - mas com decoro, nas minhas intimidades com a prosa tenho de envolver com violência carinhosa a poesia. Não interpreteis isto livremente, esta liberdade ainda não vos foi permitida.
Há cavalos sem cabeça; este facto é coerente. Assim aqui atirado sem maior explicação, só concluís que sou estranho e gero estranheza (ah, meu narrador libertino...); o que quero transmitir-vos é que há ficção dentro da própria ficção. Parece-vos um sofisma?, uma vulgaridade?, um enredo para pasmar e dispersar as atenções? Pois, ficai sabendo que dentro da ficção cabe tudo, é um verdadeiro continente de possibilidades e impossibilidades; dentro da ficção cabe tudo como acontece fora dela, no mundo, realidade, ethos, cabem todos os fenómenos que não conseguimos perceber “aqui” na realidade, se é que vos consegui embalar com tão poucas frases e fazer com que imaginásseis a realidade no meio deste texto!, retomo então o controlo dos fios, e sois novamente as minhas marionetas; não fujais imediatamente, acabei de enfiar-vos a minha mão pelo vosso fundo escuro, subi-a pelo vosso interior, e animo-vos os movimentos e expressões com os meus dedos; fantoche ou marioneta, o que interessa é a metáfora, e ainda bem que nesta relação promíscua entre Valter e narrador, este último não se lembrou de enfiar no meu fundo escuro a sua mão...
Sou um vampiro faminto, quero sangue, sangue novo, sangue novo e diferente. E quero descobri-lo na raça humana, neste pequeno grupo que aqui atraí; sei bem que – saciado ou não – em breve terei de roçar os meus dentinhos em pescoços com outros sangues, com maiores diferenças. Depois conto-vos como agoniza a zebra, o gnu, a serpente, a morsa, o panda vermelho, o dragão de Comodo, o lince da Malcata (o narrador quis intrometer-se, e de tão enlevado que estava eu com as sensações anteriores, não lhe opus resistência, nem sequer filtrei ou dei qualquer atenção ao que me obrigou a escrever, algo como “só conseguir imaginar um restaurante de rodízio de churrasco dentro de um jardim zoológico”, julgai-o vós que não consigo desconcentrar-me do que se passa na minha língua).
Títulos. Posso escrever prepósteros? O narrador não mo permite. Recomeço. Títulos ousados, que intrigam. São os títulos dos meus livros. Prender o leitor à minha escrita começa logo nessa primeira frase inscrita na cara do livro exposta ao mundo: toma lá mundo. Tudo pode ser (mas nunca deve dizer-se tudo deve, ou querer-se que seja) literatura, até o nome de uma editora. Objecto Cardíaco pode parecer-vos artificioso, mas relei este nome..., o que é um ou o objecto cardíaco? É a, ou são as coisas do coração.
Pois... tenho que ter alguma agilidade comercial, mesmo que assim discreta.
Segundo andamento: só se ofende quem está disposto a ser ofendido
“Estou farto de Angola!”, disse o meu pai; e quem disse “vamos embora”? (Quem perguntou isto?) Sem LSD, recordo o dia da revolução (todos os dias são de revoluções, mas naquela houve mais balas e confusão). Paços de Ferreira só tem história porque é necessário preencher o tempo com ela; cresci feliz e as letrinhas dos livros ofereceram-me esta miopia: grata e generosa literatura. Cheguei a Vila do Conde e lancei a âncora. Daqui não saio. Ou saio, mas contrariado. Se saio de casa às nove horas da manhã, às dez já estou com saudades. Saudade, até, se a essa hora ainda não ultrapassei o portão do meu próprio jardim; não interessa e não é exagero, é o próprio acto de partir que isto origina. Já me aconteceu igual ao partir todo o tipo de objectos queridos – é o abandono instantâneo -, mas quem se afasta nestes casos não sou eu, claro. Escuro.
Quais são os dois refrigerantes mais apreciados em Angola? Coca-cólera, Angola-cola.
Mais energia! Escrevei como se contivesséis metade das nuvens do planeta, a outra metade aproximando-se, negra, olho de tubarão, carregada da carga oposta à vossa, chocai com ela e electrizai-vos, electrocutai os vossos arredores, o meu desejo é que um dia sejais um cogumelo atómico, cada um de vós, que mais bela floração de energia conseguis imaginar? Quero essa energia nos vossos textos!
Ainda não consegui descobrir quem foi/quem é/quem será o homem mais infeliz do mundo, este narrador diz que o conceito de infelicidade a cada momento e disposição se altera, eu não posso responder, porque o verdadeiro Valter não tem exactamente voz própria aqui, e o narrador tem algum pudor em fingir e usurpar a minha identidade inteiramente; eu creio (aqui temos em grande plano o paradoxo que este texto desenvolveu) que o narrador é um imbecil, nega-se a admitir inteiramente o pudor, quer que dividamos irmãmente o pudor/incapacidade em isolar a maior infelicidade num ser só e congelar esse momento. (E – pior ainda – crê ser uma perda de tempo tentar escrevê-lo, mas pode bem vir a mudar de ideias, é natural e saudável na espécie).
Escritores estranhos, marginais, malditos, são os meus prepostos, com o sentido de preferência.
Bastando uma pessoa que maldiga o meu trabalho (ou intenção de trabalho, deus tão adorado meu!, quanta correcção científica...!), então sou um maldito?, eu e todos que partilham comigo este entendimento? Somos todos malditos? Então, por todos os deuses e deusas, nus e nuas, em cópulas divinas com os seus corpos assombrosos e deliciosos e maliciosos e OBSCENOS, dou dois, três, epifania!, quatro, terei energia para mais?, cinco e recupero o fôlego, seis, sete saltos no ar e desisto, só sobra mais energia para isto: EU SOU UM MALDITO!, agora que berrei, posso voltar aos meus modos plácidos, ao meu humor discreto mas constante.
A William Seward Burroughs II faltou-lhe experimentar pelo menos uma droga, este texto. Que sentido dais a droga?
(Há mais e mais perverso humor para além disto. Eu não disse isto, nem indiciei, mas alguém se atreveu a fazê-lo por mim. De onde estão a sair estas vozes? Afinal, quem é o covardezinho? Está cá mais alguém além de Valter e do narrador?)
Ah, e muita atenção a isto: a página – que será uma das nossas medidas de trabalho – terá de ser respeitada, não sejais espertinhos ao escrever com letra pequenina, com as frases apertadinhas umas contra as outras, e roubando toda a margem para caber mais texto. Não terei piedade de vós, e sereis humilhados perante todos os demais. Exceptuado isto, até sou bonzinho (mas nunca inofensivo, tomai boa nota).
Esclarecimento às senhoras presentes, mães de donzelas: a cobrição das filhas implicou lencinhos de linho e rendas primorosas; afinal, alguma virtude havia na história, essa.
O Pinóquio terminou o solilóquio; e é esta a sua melhor poesia, fazer rimar duas palavras. Bravo.
Eu, Valter Hugo Mãe (tão Mãe quanto Henrique de Carvalho é agora Saurimo!; mas, será que nesse além de três décadas de distância, a alguns milhares de léguas/milhas marítimas e terrestres/quilómetros//braças/jardas/pés/polegadas/milhares de milhões de pequenas medidas de distância, escrevia eu: será que nesse além angolano também houve alguma preocupação de vestirem a emotividade?, houve a busca dela?, tanta quanto o expressivo e desarmante conceito de mãe?), que já não sou eu próprio mas uma marioneta que instruí, por mim autorizada, para experimentar-vos enquanto narradores atolados da vossa incipiência (para quem apenas escuta, este amador narrador escreveu incipiente, e não insipiente, embora tivesse hesitado uns segundos gordos sobre qual deles seria a menos imperfeita significação), recuo novamente... para experimentar-vos enquanto narradores atolados na vossa incipiência, propus-vos este objectivo para apreciar as delicadas abordagens de uns, e as possíveis variantes até ao atrevimento e abuso de quem se servir desta liberdade (com ou sem pressuposição da existência ou não da liberdade, contei-vos este meu sentimento?, sobre a minha escrita livre?) DELEGADA para construções e enredo impróprios.
Algo sobre mim: obscenidade é uma palavra deliciosa.
Se colapso, derramo prosa e poesia.
A prosa é a minha amante a tempo inteiro, a poesia é a Senhora tentação (com a qual demoradas volúpias são impossíveis), é a aparente disponibilidade do ser muito atraente na propriedade vizinha, com quem tenho intimidades com basta frequência. Isto parece contraditório porque se a prosa é uma amante a tempo inteiro, como posso ter disponibilidade para ter intimidades frequentemente com a poesia? Simples, é que se nas minhas intimidades com a poesia a prosa as presencia - cúmplice - mas com decoro, nas minhas intimidades com a prosa tenho de envolver com violência carinhosa a poesia. Não interpreteis isto livremente, esta liberdade ainda não vos foi permitida.
Há cavalos sem cabeça; este facto é coerente. Assim aqui atirado sem maior explicação, só concluís que sou estranho e gero estranheza (ah, meu narrador libertino...); o que quero transmitir-vos é que há ficção dentro da própria ficção. Parece-vos um sofisma?, uma vulgaridade?, um enredo para pasmar e dispersar as atenções? Pois, ficai sabendo que dentro da ficção cabe tudo, é um verdadeiro continente de possibilidades e impossibilidades; dentro da ficção cabe tudo como acontece fora dela, no mundo, realidade, ethos, cabem todos os fenómenos que não conseguimos perceber “aqui” na realidade, se é que vos consegui embalar com tão poucas frases e fazer com que imaginásseis a realidade no meio deste texto!, retomo então o controlo dos fios, e sois novamente as minhas marionetas; não fujais imediatamente, acabei de enfiar-vos a minha mão pelo vosso fundo escuro, subi-a pelo vosso interior, e animo-vos os movimentos e expressões com os meus dedos; fantoche ou marioneta, o que interessa é a metáfora, e ainda bem que nesta relação promíscua entre Valter e narrador, este último não se lembrou de enfiar no meu fundo escuro a sua mão...
Sou um vampiro faminto, quero sangue, sangue novo, sangue novo e diferente. E quero descobri-lo na raça humana, neste pequeno grupo que aqui atraí; sei bem que – saciado ou não – em breve terei de roçar os meus dentinhos em pescoços com outros sangues, com maiores diferenças. Depois conto-vos como agoniza a zebra, o gnu, a serpente, a morsa, o panda vermelho, o dragão de Comodo, o lince da Malcata (o narrador quis intrometer-se, e de tão enlevado que estava eu com as sensações anteriores, não lhe opus resistência, nem sequer filtrei ou dei qualquer atenção ao que me obrigou a escrever, algo como “só conseguir imaginar um restaurante de rodízio de churrasco dentro de um jardim zoológico”, julgai-o vós que não consigo desconcentrar-me do que se passa na minha língua).
Títulos. Posso escrever prepósteros? O narrador não mo permite. Recomeço. Títulos ousados, que intrigam. São os títulos dos meus livros. Prender o leitor à minha escrita começa logo nessa primeira frase inscrita na cara do livro exposta ao mundo: toma lá mundo. Tudo pode ser (mas nunca deve dizer-se tudo deve, ou querer-se que seja) literatura, até o nome de uma editora. Objecto Cardíaco pode parecer-vos artificioso, mas relei este nome..., o que é um ou o objecto cardíaco? É a, ou são as coisas do coração.
Pois... tenho que ter alguma agilidade comercial, mesmo que assim discreta.
Segundo andamento: só se ofende quem está disposto a ser ofendido
“Estou farto de Angola!”, disse o meu pai; e quem disse “vamos embora”? (Quem perguntou isto?) Sem LSD, recordo o dia da revolução (todos os dias são de revoluções, mas naquela houve mais balas e confusão). Paços de Ferreira só tem história porque é necessário preencher o tempo com ela; cresci feliz e as letrinhas dos livros ofereceram-me esta miopia: grata e generosa literatura. Cheguei a Vila do Conde e lancei a âncora. Daqui não saio. Ou saio, mas contrariado. Se saio de casa às nove horas da manhã, às dez já estou com saudades. Saudade, até, se a essa hora ainda não ultrapassei o portão do meu próprio jardim; não interessa e não é exagero, é o próprio acto de partir que isto origina. Já me aconteceu igual ao partir todo o tipo de objectos queridos – é o abandono instantâneo -, mas quem se afasta nestes casos não sou eu, claro. Escuro.
Quais são os dois refrigerantes mais apreciados em Angola? Coca-cólera, Angola-cola.
Mais energia! Escrevei como se contivesséis metade das nuvens do planeta, a outra metade aproximando-se, negra, olho de tubarão, carregada da carga oposta à vossa, chocai com ela e electrizai-vos, electrocutai os vossos arredores, o meu desejo é que um dia sejais um cogumelo atómico, cada um de vós, que mais bela floração de energia conseguis imaginar? Quero essa energia nos vossos textos!
Ainda não consegui descobrir quem foi/quem é/quem será o homem mais infeliz do mundo, este narrador diz que o conceito de infelicidade a cada momento e disposição se altera, eu não posso responder, porque o verdadeiro Valter não tem exactamente voz própria aqui, e o narrador tem algum pudor em fingir e usurpar a minha identidade inteiramente; eu creio (aqui temos em grande plano o paradoxo que este texto desenvolveu) que o narrador é um imbecil, nega-se a admitir inteiramente o pudor, quer que dividamos irmãmente o pudor/incapacidade em isolar a maior infelicidade num ser só e congelar esse momento. (E – pior ainda – crê ser uma perda de tempo tentar escrevê-lo, mas pode bem vir a mudar de ideias, é natural e saudável na espécie).
Escritores estranhos, marginais, malditos, são os meus prepostos, com o sentido de preferência.
Bastando uma pessoa que maldiga o meu trabalho (ou intenção de trabalho, deus tão adorado meu!, quanta correcção científica...!), então sou um maldito?, eu e todos que partilham comigo este entendimento? Somos todos malditos? Então, por todos os deuses e deusas, nus e nuas, em cópulas divinas com os seus corpos assombrosos e deliciosos e maliciosos e OBSCENOS, dou dois, três, epifania!, quatro, terei energia para mais?, cinco e recupero o fôlego, seis, sete saltos no ar e desisto, só sobra mais energia para isto: EU SOU UM MALDITO!, agora que berrei, posso voltar aos meus modos plácidos, ao meu humor discreto mas constante.
A William Seward Burroughs II faltou-lhe experimentar pelo menos uma droga, este texto. Que sentido dais a droga?
(Há mais e mais perverso humor para além disto. Eu não disse isto, nem indiciei, mas alguém se atreveu a fazê-lo por mim. De onde estão a sair estas vozes? Afinal, quem é o covardezinho? Está cá mais alguém além de Valter e do narrador?)
Ah, e muita atenção a isto: a página – que será uma das nossas medidas de trabalho – terá de ser respeitada, não sejais espertinhos ao escrever com letra pequenina, com as frases apertadinhas umas contra as outras, e roubando toda a margem para caber mais texto. Não terei piedade de vós, e sereis humilhados perante todos os demais. Exceptuado isto, até sou bonzinho (mas nunca inofensivo, tomai boa nota).
Esclarecimento às senhoras presentes, mães de donzelas: a cobrição das filhas implicou lencinhos de linho e rendas primorosas; afinal, alguma virtude havia na história, essa.
O Pinóquio terminou o solilóquio; e é esta a sua melhor poesia, fazer rimar duas palavras. Bravo.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home