I don’t want to fuck Julia Roberts if I have to do such a thing – Sorry, Emy
Importava pouco se já alguém lhe havia afirmado tal. Percebi que não. Ou talvez a negação se repetisse por tão veemente ser.
“Sabes que esses teus tiques e trejeitos são os mesmos da Julia Roberts? Como é que consegues? Treinas-te diante do espelho?”
Mesmo sendo eu um espectador algo distante da actriz, de tão evidente, era imediato recolher as coincidências, especialmente aquele arquejar de sobrancelhas que lhe levanta a ponta do nariz, esse mesmo, que faz temer que haja ali DNA de coelho misturado com DNA humano. Os olhinhos de devota, com eles e apenas com eles apresentando um gigantesco sorriso. Um conjunto de gestos e articulações do rosto que denunciavam abertamente os arremedos.
Pouco importa também calcular exactamente há quanto tempo lhe afirmei isso (houve alguma fricção nesse momento, porque a Emy pensou que eu a acusei de imitar a Julia Roberts, é difícil apresentar um facto sem que este seja classificado de ofensivo ou não ofensivo, e uma afirmação num segundo é tida como uma acusação), mas foi há quatro, cinco, seis anos atrás. Eu lembro-me, ela lembra-se.
O que me incomodou durante algum tempo foi não perceber o porquê! Para quê? Por que razão um mulher adulta se põe a imitar, consciente ou inconscientemente, outra mulher adulta? Não percebia. Embora eu tenha ido mais longe, eu acreditava que ela havia treinado diante de um espelho para se parecer com a Julia Roberts.
Por que razão quer uma mulher parecer-se ou até mesmo ser como a Julia Roberts?
Não percebia, claro que não percebia, são comportamentos que um homem não percebe. E quando percebe, passados quatro, cinco, seis anos, espanta-se com espalhafato.
A Emy quis ser amada pelo Richard Gere. Era isso. A Julia Roberts era uma variável num cenário amoroso, poderia ser outra mulher, mas era ela.
A Emy, uma mulher cujo coração se enternece com histórias das histórias do Nicholas Sparks e Richard Bach (de quem não posso desdenhar, mas sinto uma ardente tentação de o fazer, embora sem sustentação); tem a sua construção e estruturação do amor, o seu romantismo, situado nessas coordenadas, nesse imaginário, em filmes como o Pretty Woman, do qual vi o suficiente para presumir que sei do que falo. Entendo que muitas mulheres ficaram enfeitiçadas pela história e pela ideia estupefaciente de que o senhor Gere é um talhante de corações e mucosas femininos, um galã assombroso, desejaram por ele ser beijadas até perderem os sentidos, e, ao recobrarem os sentidos, desejaram estar a acasalar com o senhor Gere, no lugar da Júlia Roberts.
Por isso queriam (ou, falando da Emy, queria, no singular) parecer-se com a Julia Roberts. Queriam conseguir o que a Julia Roberts conseguiu, dentro da ficção, pois bem.
Reafirmo que isto é de entendimento custoso para uma mente masculina. Há uma explicação fulminante: nunca nenhum homem imitaria o Richard Gere para conseguir acasalar com a Julia Roberts.
Este é um exemplo extremo, por um limite da decência que um homem tenta manter distante, e imitar os trejeitos trapalhões do senhor Gere (persigno-me só de imaginá-lo piscando repetidamente os olhos, parcialmente inclinado para o chão, como quem pensa profundamente, essas coisas, deus me perdoe) está muito para além de qualquer limite ou fronteira da decência.
Mesmo que a compensação seja a mais grandiosa e promissora cópula.
“Sabes que esses teus tiques e trejeitos são os mesmos da Julia Roberts? Como é que consegues? Treinas-te diante do espelho?”
Mesmo sendo eu um espectador algo distante da actriz, de tão evidente, era imediato recolher as coincidências, especialmente aquele arquejar de sobrancelhas que lhe levanta a ponta do nariz, esse mesmo, que faz temer que haja ali DNA de coelho misturado com DNA humano. Os olhinhos de devota, com eles e apenas com eles apresentando um gigantesco sorriso. Um conjunto de gestos e articulações do rosto que denunciavam abertamente os arremedos.
Pouco importa também calcular exactamente há quanto tempo lhe afirmei isso (houve alguma fricção nesse momento, porque a Emy pensou que eu a acusei de imitar a Julia Roberts, é difícil apresentar um facto sem que este seja classificado de ofensivo ou não ofensivo, e uma afirmação num segundo é tida como uma acusação), mas foi há quatro, cinco, seis anos atrás. Eu lembro-me, ela lembra-se.
O que me incomodou durante algum tempo foi não perceber o porquê! Para quê? Por que razão um mulher adulta se põe a imitar, consciente ou inconscientemente, outra mulher adulta? Não percebia. Embora eu tenha ido mais longe, eu acreditava que ela havia treinado diante de um espelho para se parecer com a Julia Roberts.
Por que razão quer uma mulher parecer-se ou até mesmo ser como a Julia Roberts?
Não percebia, claro que não percebia, são comportamentos que um homem não percebe. E quando percebe, passados quatro, cinco, seis anos, espanta-se com espalhafato.
A Emy quis ser amada pelo Richard Gere. Era isso. A Julia Roberts era uma variável num cenário amoroso, poderia ser outra mulher, mas era ela.
A Emy, uma mulher cujo coração se enternece com histórias das histórias do Nicholas Sparks e Richard Bach (de quem não posso desdenhar, mas sinto uma ardente tentação de o fazer, embora sem sustentação); tem a sua construção e estruturação do amor, o seu romantismo, situado nessas coordenadas, nesse imaginário, em filmes como o Pretty Woman, do qual vi o suficiente para presumir que sei do que falo. Entendo que muitas mulheres ficaram enfeitiçadas pela história e pela ideia estupefaciente de que o senhor Gere é um talhante de corações e mucosas femininos, um galã assombroso, desejaram por ele ser beijadas até perderem os sentidos, e, ao recobrarem os sentidos, desejaram estar a acasalar com o senhor Gere, no lugar da Júlia Roberts.
Por isso queriam (ou, falando da Emy, queria, no singular) parecer-se com a Julia Roberts. Queriam conseguir o que a Julia Roberts conseguiu, dentro da ficção, pois bem.
Reafirmo que isto é de entendimento custoso para uma mente masculina. Há uma explicação fulminante: nunca nenhum homem imitaria o Richard Gere para conseguir acasalar com a Julia Roberts.
Este é um exemplo extremo, por um limite da decência que um homem tenta manter distante, e imitar os trejeitos trapalhões do senhor Gere (persigno-me só de imaginá-lo piscando repetidamente os olhos, parcialmente inclinado para o chão, como quem pensa profundamente, essas coisas, deus me perdoe) está muito para além de qualquer limite ou fronteira da decência.
Mesmo que a compensação seja a mais grandiosa e promissora cópula.
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