Monday, January 14, 2008

A deformidade da Língua

Uma irritação minha deverá conservar-se sempre íntima?
Em que momento vence o argumento de a tornar social?
Terei mais o dever de a partilhar do que o direito de a afirmar?

Três perguntas são demasiadas perguntas. Só mais uma.

Não sei se sabem...
Não querem fazer agora um intervalo...
Não desgostei do trabalho dele...
Não está mal...

E muito por aí fora.

Tenho vontade de fazer um grande ensaio sobre este assunto. Receio ser a minha capacidade muito inferior à intenção. Por isto, abrevio o exercício.

Tenho as minhas suspeitas (amadoras, sem fundamento académico) de que há aqui inspiração francesa (que inspirou também a Grã-Bretanha, com o frequente e cansativo "why don't you..." a servir de exemplo mais oportuno*), e tímido acuso a França de nos ter invertido o discurso. De tão artificioso (estas negações desnecessárias, deslocadas, patéticas), o resultado é-me muito repugnante. Vai tão longe quanto isto, o contágio:

"... perder a vida..."

Na minha sugestão de repensar e recuperar a linguagem, esta mesma expressão deveria ser já substituída por:

"... ganhar a morte..."

Voltarei ao assunto, tira-me o sono. O sono é-me (é-me, é-me, é-me) precioso, não permito este atentado, não sem desforra. O sono é o mais próximo que estou da morte, sem morrer, ressuscito todos os dias. É magnífico isto acontecer assim tão regularmente, até expirar.

Faltou-me uma pergunta. A verdade é que acima me lembrei deste engenho finório, criando espaço para uma pergunta mais, e dessa forma resolvendo a promessa e criando esta circularidade no texto. A verdade é que tenho pouca ideia do que estou a escrever. Sentou-se aqui um macaco com uma máquina de escrever, e chegou a isto, tenho provas, tenho pêlos malcheirosos entre as teclas, restos da infalível banana, ranho e demais gosmas símias. Juro. Venham cá ver.


* exemplo ainda mais expressivo, que grau de tolice ultrapassa esta brilhante construção "... it's not inexpensive..."?

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