Tuesday, April 17, 2007

Broadcast do 3.º esquerdo


Ontem à noite, silêncio absoluto no 2.º esquerdo, ter-se-ão matado?

Que seja isso, porque o que têm praticado é uma morte que só em juros de mora já vai valer duas mortes por cabeça.

Vai custar-me a ficcionar a outra perspectiva (sim, a feminina), que só a espaços consigo escutar, sempre abafada pelo..., pelo... prolator medieval.

(Sem exagero, L.J. sozinho é suficiente para enfrentar uma claque das que tenham todas as buzinas e tamanhos de tambores.)

É feio, não quero encostar o ouvido à parede para tentar perceber que lamentos tem, e quero colorir a tragédia do andar de baixo com uma partícula de verdade.

Até porque só ela é honesta, quando trocamos as vezes no elevador, ou coincidem as minhas entradas com a saída de ambos, apenas ela tem a expressão do que oiço passar-se noites adentro. Admiro (não idolatramos os actores?) a expressão dele, que diz nitidamente

"acabei de cortar as unhas, faço-o uma vez por mês; estive a pensar bem, muito bem, e vou mudar de espuma da barba, esta que uso cheira muito a, como explicar?, cheira a detergentes antigos; se mantiver a mão no bolso, ninguém se aperceberá de que me falta o botão neste punho; estou bem-disposto, sou jovem, bonito* e magro, o mundo não é todo meu, mas quero uma bela fatia, se fazem favor",

e a cara dela procurando ou rezando para que um véu lhe desça espontanemente sobre o rosto.
Ter um drama alheio a entrar-me pela casa dentro não me agrada, até porque ao L.J. já não lhe basta a linguagem normal, e tem de juntar-lhe palavrões agressivos; isso e ter o meu (e o das minhas meninas) descanso diminuído faz-me distorcer o Morrissey:
"How I dearly wish I was not here / In the upstairs flat / that they forgot to bomb
Come, come, come - nuclear bomb... Everyday is silent and grey"

*ficcionar sobre a realidade tem momentos mais dolorosos do que o parto de um mamute...

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