Tuesday, February 10, 2009

Diferenças menores entre Buffalo e Phillips, e outras diferenças mais











Foi algum o tempo durante o qual não conseguia perceber ou distinguir Grant Lee Buffalo de Grant Lee Phillips.

Inocêncio!

Bem, nem só as complexidades dão gosto à vida, também as simplicidades, mesmo que para gente pouco dotada – eu – sejam inicialmente obstáculos.

Agora é dócil distinguir, o antes é fundamental, o depois pede misericórdia, pelo menos alguma.

Conheci o olímpico Lone Star Song nos transportadores de fita de um lado para o outro, e do outro para um, continuamente, de leitura magnética, as amorosas cassetes que emprestávamos cheios de fé de conseguir impressionar as fêmeas, e aceder-lhes aos jardins húmidos e quentes através da boa impressão.

“They shot an angel in mid-flight and now she wont protect us / Shout it to the bedlamites we are westward ho”

Menos tenso de energias eléctricas, de outras tensões, a cadência quase impacientadora de Lady Godiva & Me, lutando injustamente para se fazer entender debaixo das más gravações, da más cassetes, dos maus leitores de cassetes, ainda assim, conseguia respirar o espírito da música, e até perceber-se uma pérola na letra:

“I wore a minotaur’s mask and I played the moon cow”

Que ninguém se engane, não ando por aqui infrequentemente a fazer crítica musical. Ando ao que ando, com as mãos cheias de senso comum e frases feitas diria que ando por aqui aos cucos. Não ando ou ando enganado.

Apenas pela música, os Grant Lee Buffalo soavam-me a banda mais sebosa de todo o rock and roll do final de século, como se tivessem alguma anomalia séria nas próprias glândulas. Sem ofensa, concluo que também poderia ser uma grandiosa estrela musical, não pelo sebo, ou não só pelo sebo, mas também porque nasci com uma cara tão retorta para bem me apresentar em qualquer Shining Hour.

Abstraiam-se das semelhanças com o Val Kilmer, é apenas Sr. Phillips himself.




Wednesday, February 04, 2009

Ei, touro!

Irremediavelmente migrado para os amantes da língua do outro lado do Atlântico, li há uns poucos dias atrás uma crónica do Rubem Fonseca, onde se catapulta da Vénus de Willendorf (coisa feia de ver, arte para olhos de outros tempos, vai de retro, Vénus velha) para outras considerações sobre puritanismo, pornografia e sexualidade.

É surpreendente ler-lhe os textos, brincam com a nossa intenção de prever onde vai ele levar o assunto; com muita elegância, Rubem dança-nos com o assunto na cara, provoca-nos uma falsa partida, e depois sai a correr noutra direcção, troçando serenamente.

Fico colérico, mas o homem toureia-me com uma destreza que me desarma qualquer desforra.

Rubem, ofereço a cerviz ao estoque.