Saturday, April 21, 2007

Contumácia


Vou persistir no amor.

Thursday, April 19, 2007

Broadcast do 3.º esquerdo

Quase não tenho dúvidas.

Quase.
Quase.
Quase.
Quase.

(Desperta! Abre los ojos...)

Mataram-se, ele ergueu um facalhão de cozinha, dos que poderiam num talho retalhar os maiores bichos do zoológico, desceu-o sobre ela e cindou-a em dois. Ela, em simultâneo, ergueu as mãos com as suas unhas de aço inoxidável, trespassou-lhe pulmões e coração até parar na pele das costas, como que abraçando-o, ou isso mesmo, um abraço que veio de dentro...

Sangue?
Algum, pouco para o cenário medonho. Quase todo dele, ela já havia chorado todo o líquido que continha.

É difícil de imaginar, bem sei, mas a óleo sobre tela é fácil de conduzir, mesmo que distorcendo as formas, que é o que mais acontece. A emoção não se regista com linhas rectas.

(A emoção o quê?)

Ali, no andar de baixo, as duas metades de mulher abraçadas pelo interior ao homem com cara de quem acabou de cortar as unhas.

Interrompi o silêncio e servi-lhes a banda sonora: "This Loneliness"

(http://www.myspace.com/elperrodelmar)

Preciso de um amarelo loução, ambos os rostos o exigem.

Wednesday, April 18, 2007

Anfibologia


O entusiasmo amoroso leva a isto.
Explico: isto é a utilização com toda a propriedade das palavras, repito: toda.

Porque nela, até isto cabe. E a graça humana até aquilo (a imagem) se lembrou de inventar, e com arrojo tomou aquilo por divindade.

Da próxima vez que vos dirigirdes às vossas fêmeas muito amadas, em prosa entusiasmada e elogiosa, e vos surgir na rima a vontade de a tratar por deusa, certificai-vos de que ela nunca associou a honra a esta deusa: Sheila Na Gig.
Muito prazer, paulopontog, gosto do teu penteado.

Tuesday, April 17, 2007

Acrobacias - actos circenses

Não sou uma pedra, nem tão-pouco uma carpideira; assim, chorar baba e ranho parece-me conseguimento para se ter dentro de recinto fechado, cobrando-se entrada à assistência.

Broadcast do 3.º esquerdo


Ontem à noite, silêncio absoluto no 2.º esquerdo, ter-se-ão matado?

Que seja isso, porque o que têm praticado é uma morte que só em juros de mora já vai valer duas mortes por cabeça.

Vai custar-me a ficcionar a outra perspectiva (sim, a feminina), que só a espaços consigo escutar, sempre abafada pelo..., pelo... prolator medieval.

(Sem exagero, L.J. sozinho é suficiente para enfrentar uma claque das que tenham todas as buzinas e tamanhos de tambores.)

É feio, não quero encostar o ouvido à parede para tentar perceber que lamentos tem, e quero colorir a tragédia do andar de baixo com uma partícula de verdade.

Até porque só ela é honesta, quando trocamos as vezes no elevador, ou coincidem as minhas entradas com a saída de ambos, apenas ela tem a expressão do que oiço passar-se noites adentro. Admiro (não idolatramos os actores?) a expressão dele, que diz nitidamente

"acabei de cortar as unhas, faço-o uma vez por mês; estive a pensar bem, muito bem, e vou mudar de espuma da barba, esta que uso cheira muito a, como explicar?, cheira a detergentes antigos; se mantiver a mão no bolso, ninguém se aperceberá de que me falta o botão neste punho; estou bem-disposto, sou jovem, bonito* e magro, o mundo não é todo meu, mas quero uma bela fatia, se fazem favor",

e a cara dela procurando ou rezando para que um véu lhe desça espontanemente sobre o rosto.
Ter um drama alheio a entrar-me pela casa dentro não me agrada, até porque ao L.J. já não lhe basta a linguagem normal, e tem de juntar-lhe palavrões agressivos; isso e ter o meu (e o das minhas meninas) descanso diminuído faz-me distorcer o Morrissey:
"How I dearly wish I was not here / In the upstairs flat / that they forgot to bomb
Come, come, come - nuclear bomb... Everyday is silent and grey"

*ficcionar sobre a realidade tem momentos mais dolorosos do que o parto de um mamute...

Monday, April 16, 2007

Comi um grande e amargo limão

Relendo e repensando:

"E se fosses foder a vida a outro?",

até me parece parece algo muito digno para se pensar.

Assim de repente, até me apetece fazer um grande cartaz e carregá-lo no rosto, como se fosse esta a minha expressão facial mais perfeita. Sei que não é bonito, mas por que há-de coisa alguma ser bonita?, especialmente quando assim o é, há um perigo maior de ser daninha?

Cru(b)eldade

Como pode um hedonista suportar uma pena física ou moral?
Porque a pergunta não é totalmente retórica nem teórica, reformulo:
Como deve um hedonista suportar uma pena física ou moral?

(resposta cínica...: estoicamente; resposta cruel: asceticamente)

Animal de (baixa auto-) estimação

Maltratar, muito, demasiado, intensamente, longamente,
Vexar,
Humilhar,
Desprezar,
Desrespeitar,
Desautorizar,
Repudiar, afastar, afastar, afastar, afastar, afastar, afastar.
Desamar.

Foda-se, finalmente chegado ao verdadeiro trapo humano, já me posso (tentar) pôr de pé?

E se mudássemos todos de vida?

Garanto que me ponho de pé, sarado ou não, a odiar ou não, mas ponho-me de pé, nunca tão altivo quanto o nariz que me inabilitou, mas minimamente erecto.

Cheguei a pensar: "E se fosses foder a vida a outro?", não sei se é justo. Mas penso muitas coisas, não têm de ser todas justas; e, se não as deixar escritas, nunca ninguém saberá, mesmo que acredite que por as pensar não seja necessariamente responsável por alguma indelicadeza.

Nunca houve melhor altura para nada (excepto para as colheitas, e mesmo isso parece que já só nos livros da história agrícola), esta circunstância só respeita a estatística das alturas. E o respeito é tão bom, ou a assim pensar me tentaram educar.

Eu sei que sou uma pessoa vil (decapitaram o ursinho de pelúcia), mas mais ninguém tem o direito de o saber, ou sequer suspeitar.

Ando com umas febres "à Dostoievski", não há medicinas para isto, é mesmo caso para fechar o livro. E dizer adeus. E viver atrapalhado com recordações que não servem para nada, muita merda que não serve para nada. Merda. Nada.

Tuesday, April 03, 2007

Luto (fight?)


Ah, pois, dito e reescrito uma multidão de vezes... para termos alguns privilégios, prazeres, felicidades, enfim, acrescentem à lista, escrevia eu que para isso temos que suportar com dignidade a (palavra feia, solene, mas feia, não necessáriamente pelo eufemismo, ou pela intenção do eufemismo) fatalidade. Ade, ade, ade, ade. Há-de.

Com dignidade.

Com muito orgulho.

Morreste, oh, sim. É-me difícil esconder que te tenho aos saltos dentro do peito. Nisso estás muito viva; em mim e em muitas, muitas pessoas. Vais continuar aos saltos, para nosso contentamento.

Mas isso é uma intimidade que até devo confessar baixinho. Do que mais que me orgulho é de ter estado na tua vida durante quase catorze anos. Não sei em quanto contribuí para as tuas felicidades, e espero bem que não se faça agora a contabilidade das tristezas que foram culpa minha, o saldo é excessivamente bom; tanto que até escrevo estranhezas de difícil entendimento: este é um luto muito animador.
Não adianta querer-te de volta, o teu corpo não virá, mas o que deixaste plantado de carinho é impossível de sepultar.

Desejo de criança: agora que meteram a flor à terra, vai desabrochar como nunca...

Se o provedor do blog estiver distraído, e porque me falta alguma energia e concentração para rebuscar uma afirmação pomposamente culta/erudita, vai mesmo uma referência ao Vanilla Sky:

"I'll see you in another life, when we're both cats".
Xau-xau, Rosa.