Saturday, February 27, 2010

Música e tal e poesia e tal na Fundação do senhor Miranda, numa terça-feira de Fevereiro do degraçado ano de dois mil e dez.

He’s so extraordinarily thin and tall, it took him ages to adjust the piano bench.

The scent of yore.
Wood, floor wax.
Notes. He started playing.

Acumulação de graves.
GRAVES.

Mais adiante, gorjeios, volatas.

Vemos (e entendemos?) as cordas do piano, reflectidas.

The fine people smell like pine. Fine pine.

Harmonias.

WE REST. IF ASSURED
(Citação que não sei determinar a origem.)

Antebraço e coxa proporcionados, extensos, LONGOS. A longitude desses membros.

Cacofonias, encontros, agora uma melodia, uma história.

Lágrimas aspiradas na palma das mãos e mangas de alguém muito orgulhoso (na palma das mães, ou o singular disso, sempre preferimos o singular). Sem cessar. Maestrinas inclinações de pescoço, sem aspas, aspiração contínua.

Afunda as teclas.
Afunda-as.

Vigilância apertada de todas, TODOS os arredores.

(Vela-me os apontamentos, intima-me a aplaudir sem regra.)

É importante intimidar todos os outros à fruição generosa da arte do nosso amigo íntimo.

A dama acompanha ao jeito de nau navegando nos andamentos mais melancólicos.

(Que outra coisa faz uma nau que não seja navegar nem estar exposta num museu? Há metáforas nas quais não se pode envolver uma mulher acima dos quarenta anos. Hei-de aprender.)

(I believe her to be a glorious fuck. Ou estou febril.)

Perfume verde.

Perfumes verdes.


Vénias solenes aplaudidas.

Altíssima vénia.

O angustiado olhar para os espelhos negros do piano. Arpejos para baixo, para todos os lados. Dedos correndo lépidos. Ritmos e alternâncias de ritmo.

Lágrimas aqui ao lado.

She peaks my text. I react. I retract.

O verde e velho veludo das cortinas, talvez real.

Piano e banco de piano abandonados. Regressa. Regressa aos espelhos fúnebres do piano. Regressa com algo russo de tom.

Gorgeous.

Agudos fortes e consequentes, ritmados, dança a sala dentro da sua concentração.

Mamã e o papá: olhem para o nosso virtuoso filho, dezassete insuficientes anos e tantos anos-luz à frente em interpretações clássicas.

Escalas acima e abaixo. Odor intenso a pinho e a resina. Resignado, resinado. Pinho.

Papás orgulhosíssimos.

Subimos uns degraus, em direcção à poesia. Admitimos fisicamente a elevação da poesia, abençoados e esforçados.

Inauguro-me aqui. Estranho os jogos de espelhos, losangos da moda há umas décadas atrás; sentamo-nos em estranhos objectos de sentar, que surpresa serem eles funcionais, o suficiente, no limite.

Releio os meus apontamentos, há citações que bem assinalei, há comentários ou ideias soltas que não garanto serem próprias, ou apropriadas. Vejamos.

Maravilha do acaso.
Afecto.

“Ironia gentil”.

Ora, agora...

É preciso. Bisogno.

“Aspiras o absinto”.

“Os limões”.

Escuta.

“... sussurro dos ramos amigos...”

“Doçura inquieta”.

“Parte da riqueza, que é o cheiro dos limões”.

“O tédio do Inverno”.

“O amarelo dos limões”.

“Trombetas de ouro da solaridade”.

“Talvez enfastiada, talvez compungida”.

O tétrico ledor de poesia, enriquecendo a gravidade com o fado, o desespero, o desprezo, o oculto, a infinita vaidade de tudo, a solidão.

“Sol e chuva no meu coração”.

A sério?

“Muito se sofre”.

A sério?

“Poetisa anómala... linguagem absoluta e arbitrária”.

Não pergunto.

“Pulsões de morte”.

“Às tantas”.

(Disse o tétrico; às quê?, perguntei-me.)

“Surrealidade”.

If assured.

Se sossegados (ou?), se assegurados.

“Breviário da estática”.

“Perguntas do pranto”.

“Um som constante”, enquanto o relógio indiscreto nos comunicava as vinte e três horas.

“Enfermeiros são os hábitos...”

Anunciadas as bizarrias: “Rizomas do sono”; “quanto em ti, quanto?”; “sonhar-vos servos”.

Fomos embora, alguns indiferentes, se alguém se emocionou, e tal efeito perdurou, de bom ou boa actriz se tratava, bravo. Também ninguém se contrariou, monstrando-o sem pudores, the fine pine people não o admitiriam, nem sequer o merecem.

The fine pine people.

The fine pine people.

Thursday, February 04, 2010

Um máximo problema: onde está o teu pipi?

Depois de um dia a acompanhar com os olhos as minhas passadas, cada movimento mínimo delas, recenseando tudo o que há pelo chão, incrédulo pela quantidade de líquido que deveria ficar dentro das bocas, mas não, anda por aí projectado no solo.

Depois desse dia a obcecar-me com os meus máximos problemas, eis que no seguinte componho o corpo, e vou de rosto em rosto fixando firme o olhar das mulheres incríveis, das mulheres fatais.

E incrível é isto: nesse mesmo dia abro os braços porque neles me cai um grande, belo, apetecível fruto.

Tudo acontece, a sequência completa da sedução.

Ela, tão tão tão peluda, exposta, com as pernas entreabertas, magra, graciosa. Perguntei, audaz e brincalhão, onde está?, onde está o teu pipi?