Atropelei-te, atlético trapalhão que sou.
No dia do teu aniversário, foram umas quantas feridas a minha sentida prenda.
Enrolado no espesso e remendado sobretudo cinzento que herdei do meu irmão, e que leguei ao meu avô (que, apesar dos seus sobranceiros noventa anos, parece crescer-lhe nos ombros de ano para ano), rebolei contigo nos paralelos angulosos e severamente frios dessa manhã de Janeiro.
Pequenina, franzina, cabelo louro, possivelmente natural - que sei eu -, dentes apresentáveis, mas um hálito muito, muito, muito desagradável.
Não terminámos a queda numa posição de beijo iminente, teria sido um embaraço que me faria relembrar-te mais vezes do que esta avulsa vez.
Quanto estiver completamente senil, já poderei e hei-de utilizar a expressão "uma vez não são vezes", e por decalque da fómula: "uma balada não são baladas", "um míssil terra-ar não são mísseis terra-ar", "uma pose-de-quem-não-quer-a-coisa não são poses-de-quem-não-quer-a-coisa"; tinha de confessar esta alergia.
Lembrei-me de ti, que sorte tens (não é jactância, posso contrapor que não deves lembrar-te de mim sem razão aparente e distante do dia do teu aniversário), despareceste para sempre (pelo menos até hoje, que exagerado sou), eu desapareci, deixámos de existir. Moravas na cidade seguinte, quase imediata, aqui tão perto, e não dou por ti, pelo menos (desculpa-me..., sou um amigo perverso) não me tem cheirado.
Só não me lembro do teu nome, espero que gostes de Fátima.
Eu gosto.